Piloto Automático

(publicado também no Jornal de Piracicaba, edição do dia 17 de setembro de 2016)

Um pai de família mata sua mulher a facadas e joga seus dois filhos da sacada antes de pular e se matar também, no Rio de Janeiro. Outro pai de família pula do 17º andar do fórum em SP, com seu filho no colo.

Nos dois casos acima, infelizmente reais, esses pais deixam uma carta de despedida e “coincidentemente” falam da angústia e da frustração por não conseguirem mais dar a mesma condição de vida à família, depois de terem sido demitidos de um emprego e conseguido outro, entretanto, com salários menores.

São muitas notícias similares, diariamente. Eu sei que isso choca, mas sei também que esse tipo de notícia, assim como outras aberrações da vida, gradativamente estão virando apenas “fatos corriqueiros”, e é preciso mudar o destino trágico de tantas pessoas. O que vamos fazer por essa causa? Apenas nos surpreender ou assistir passivos e horrorizados?

Quando o ser humano vai perceber que está trocando valores? As filas dos que insistem em viver apenas pelo trabalho e pelo dinheiro crescem assustadoramente.

Certamente você conhece ou ouvir falar de avós que tiveram mais de 8 filhos, e, com muito suor, conseguiram dar uma vida digna para todos eles! 

Por que essa loucura de se ter o melhor carro, a melhor casa, as melhores viagens, as melhores marcas e outros tantos subprodutos da ilusória ideologia capitalista?

Tem sido estarrecedor como - em tão pouco tempo - as prioridades, virtudes e o uso sábio do tempo foram trocados de uma forma tão violenta.

Antigamente a gente via aquela foto de nossos pais e familiares na praia, com uma sunga de envergonhar qualquer um. Levávamos lanche de casa, porque não tínhamos dinheiro. Os adultos riam e as crianças faziam aquela bagunça. Éramos felizes, sem nos importar com o local. Hoje, parece que nada mais sacia. A cada dia vemos a ideia de família sendo esquecida e entrando a ideia da individualidade, da falsa liberdade, do falso prazer, das relações vazias e desencontradas no quesito maturidade emocional.

Espero que o artigo de hoje nos faça entender esse alerta, porque fatos horríveis como esses um dia podem também acontecer com algum conhecido ou até com algum familiar nosso.
Vamos dar um tempo para nós mesmos, desacelerar o corpo e alma.  A vida é muito mais que dinheiro, poder e bens.

Uma antiga campanha do “Citibank” mostrou ao mundo o que é fazer Marketing de valor e com responsabilidade social. Nessa campanha foram utilizadas várias frases de impacto, que são excelentes complementos para a reflexão desta semana:

"Crie filhos em vez de herdeiros".
"Não é justo fazer declarações anuais ao Imposto de Renda e nenhuma para quem você ama."
"Você pode dar uma festa sem dinheiro. Mas não sem amigos."
"Para cada almoço de negócios, faça um jantar à luz de velas."
"Por que as semanas demoram tanto e os anos passam tão rapidinho?"
"Trabalhe, trabalhe, trabalhe. Mas não se esqueça, vírgulas significam pausas..."
"...e quem sabe assim você seja promovido a melhor amigo / pai / mãe / filho / filha / namorada / namorado / marido / esposa / irmão / irmã... do mundo!"

Finalizando:

"Não eduque seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz. Assim, ele saberá o valor das coisas e não o seu preço." 

E por falar em educação – que é a melhor forma de mudar realmente este mundo - comecemos pelo nosso exemplo, porque palavras comovem, mas exemplos arrastam!

Reflita sobre suas “necessidades”. O que você tem realmente é o que você precisa? O que você faz é exatamente o que você gosta? É preciso ter a atitude de sair do piloto automático de nossas vidas e nos conhecer melhor. Não há outro caminho para mudar este mundo. Mesmo porque – reflita - no final de sua vida você não vai se lembrar de todas as coisas materiais que acumulou, mas vai se lembrar de todas as experiências incríveis que viveu, de quem você amou e como foi amado verdadeiramente, dos pequenos e mais simples detalhes (que você viveu ou que deixou de viver). 
Não há nada de errado em conquistar o que você deseja, desde que o que você deseja não te escravize, aliene ou tire sua visão do que realmente vale a pena nesta passagem tão curta que temos nesta vida. 

O que somos e temos hoje é realmente o que precisamos ser e ter?

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