As faces da obsessão



Quem assistiu o filme “Melhor Impossível”, com o ator Jack Nicholson, pode observar os exageros cometidos por seu personagem, como lavar as mãos o tempo todo, andar nas ruas sem pisar nas linhas da calçada ou então evitar encostar nas pessoas, por medo de contaminação.

Estamos falando do “TOC” (Transtorno Obsessivo Compulsivo), que é considerado hoje um problema em crescimento acelerado e bastante frequente.

O TOC se apresenta de três formas: através de pensamentos, onde é caracterizado como “obsessão”; através de verdadeiros “rituais”, que são caracterizados como “compulsão” ou os dois atuando em conjunto.

Temos vários exemplos de sintomas que podemos até chamar de iniciais, uma vez que o problema vai se agravando, juntamente com a falta de conhecimento sobre o assunto. Entre estes sintomas, podemos citar os medos, superstições, necessidade de guardar coisas inúteis ou sem valor achando que serão úteis no futuro, organizar objetos em uma determinada ordem e perdendo muito tempo com isso, encostar o braço direito num lugar e ter a necessidade de fazer o mesmo com o braço esquerdo, várias “conferências” se a porta, o gás ou alguma gaveta estão realmente fechados; conferência repetida do que escreveu - para certificação da correta elaboração do texto, o uso abusivo do álcool, das drogas, à fuga do convívio social, compras compulsivas sem considerar o que realmente pode gastar, alimentar-se compulsivamente mesmo quando não se tem fome (ou o inverso), praticar atividades físicas ou sexo de forma excessiva ou desequilibrada ao ponto de se prejudicar, uso negativo do poder, preocupação desnivelada com coisas superficiais, etc.

Vale citar aqui a grande colaboração do Psicanalista Renato Mezan, (Professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) com este tema, onde ele aprofunda o estudo de Freud, que interpretou a neurose obsessiva como um conflito entre o consciente e o inconsciente e em 1907 constatou que, além da energia sexual, a neurose obsessiva também tinha forte componente de agressividade. Atualmente, famosos e competentes estudiosos reforçam a tese de Freud.

E entra aqui um ponto de atenção ao nosso tema de hoje. A Psiquiatra Maria Conceição do Rosário apresentou em um artigo na revista Molecular Psychiatry a descoberta de que, quando falamos dos sintomas, cada pessoa os manifesta de formas e níveis diferenciados, o que nos remete a uma conscientização mais abrangente deste sério problema que acomete tanta gente, em todas as partes e classes sociais do Universo, uma vez que existe o TOC, mas existe também a “Personalidade Obsessiva”, que não é a mesma coisa, mas sim caracterizada pelo agravamento de um quadro mais simples, ou então, por ocorrerem situações realmente diferenciadas. Quem tem a personalidade obsessiva acha que o mundo está errado e quer que todos mudem para se enquadrarem em suas condutas. Um dos clássicos exemplos deste quadro (que se multiplica em várias outras “obsessões”), são os que chegam ao cúmulo de matar, roubar, violentar ou enganar “em nome” de alguma ideologia ou crença. Nestes casos, tudo é tratado de forma radical. Já quem tem o TOC consegue ver a necessidade de alteração comportamental e de adaptação ao mundo.

Segundo Bruce Hyman, do OCD Resources Center, da Flórida, quem sofre do tipo mais avançado de TOC “é incomodado a todo momento por pensamentos e imagens e sente altos níveis de estresse, ansiedade e desconforto e eles ocorrem completamente fora do contexto da história e do caráter da pessoa”.

O fato é que, independente disso, todas estas pessoas sabem que algo está errado, fora da razão e se angustiam muito com isso, silenciosamente ou não. A demora na busca de ajuda profissional vai agravando o problema e limitando cada vez mais a vida da pessoa, mesmo porque a maioria nega ou então desconhece o problema, sem contar a vergonha e o sofrimento que ele traz.

O objetivo da terapia é mudar o comportamento do paciente e ajudá-lo a enfrentar seus temores e desconfortos, como sempre digo, “na raiz”, e posteriormente, fazê-lo se livrar dos atos compulsivos que o atormentam, seja no grau que for. Mas é imprescindível que o paciente busque um profissional que o trate com amor e competência, e que relate a esse profissional - de maneira sincera e transparente – todos os seus pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos, para assim iniciar um sério processo de real libertação e equilíbrio.




(também publicado no Jornal de Piracicaba - artigo semanal do autor - dia 3 de dezembro, 2016)

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