A arte de saber negociar


        Saber negociar é um diferencial impressionantemente significativo. Antes mesmo de você falar, já negociava! Nossos “berros” – ainda bebês – já denunciavam nosso potencial negociador...

         Mas é preciso desmistificar um pouco este termo, que normalmente é vinculado ao mundo corporativo. Lógico que, numa empresa, ser um bom negociador é fator preponderante para bons resultados. Entretanto, na vida pessoal, esse diferencial tem um peso bem maior e, eu diria, causal. Explico...
 
         Até pouco tempo atrás, os requisitos básicos para ser considerado um bom negociador eram os chamados “conhecimentos técnicos” e os treinamentos eram mais direcionados a funcionários ou candidatos a funcionários de empresas. Atualmente e, cada dia mais, outras preocupações e necessidades estão sendo incorporadas ao tema, como, por exemplo, o Gerenciamento das Emoções.

        Se você acompanhar de perto o mundo corporativo, verá que um dos principais motivos de demissão (em qualquer nível ou hierarquia) não é prioritariamente a deficiência técnica ou acadêmica, mas, sim, a falta de habilidade no convívio humano, na gestão de pessoas, problemas ocasionados pela intolerância, pelo desequilíbrio emocional, enfim, motivos ligados à construção da estrutura psíquica da pessoa.      

        Na verdade, um bom negociador sabe, antes de tudo, a importância de negociar bem consigo mesmo, mesmo porque a inteligência da negociação moderna é o ganha-ganha. Contudo, para negociar bem consigo mesmo, é imprescindível o autoconhecimento, que gera o autodomínio e o consequente autocontrole.

        Elementar que, no mundo corporativo, é fundamental que haja conhecimento técnico sobre negociação e aqui defendo que ele seja pautado em “Planejamento, Execução e Controle”, técnica comprovadamente eficaz para o sucesso de uma negociação, em qualquer nível ou complexidade.

         Entretanto, de que adianta conhecimento técnico sem domínio e equilíbrio emocional? Vou além... Pais, Escolas, Empresas, Instituições e Governo deveriam se atentar mais neste ponto tão estratégico que estamos abordando. Precisamos alfabetizar, ensinar Matemática, Português, Geografia, Medicina, Direito, Marketing e tantas outras disciplinas e assuntos que lotam Universidades e Cursos, bem como exigir capacitação acadêmica e técnica dos candidatos a empregos e treiná-los. Entretanto, também precisamos ensinar as pessoas - desde cedo - o valor e os benefícios da Inteligência Emocional, precisamos ensinar as pessoas a pensarem antes de agir, a entenderem a importância do respeito ao próximo e aos limites, aos princípios da dignidade e da honestidade, a gerenciarem suas emoções e a se importarem com os valores que alimentam a alma e não às contas bancárias ou às superficialidades.

         Costumo dizer que não há castigos, mas sim consequências e essa, para mim, é a verdadeira lei do retorno, em todos os âmbitos. Somos um produto do que recebemos e acreditamos, cravados em nós pela nossa história. Mudar o que precisa ser mudado está em nossas mãos!

        Com relação ao Brasil, por exemplo, não estamos nessa situação por obra do “destino” e se quisermos uma prova é só consultarmos o ranking mundial de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano, baseado nos indicadores de educação, saúde e renda de um país). Estamos na sofrida 75ª posição... O “Jeitinho Brasileiro de ser” insiste em superar a inteligência e o bom senso, num confronto desigual. Escolarização e Educação precisam se unir na busca da virada deste jogo, nada impossível.
 
          “A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vem lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento”. (Stanislaw Ponte Preta)

          É importante entender que nada vai mudar no país ou em cada um de nós enquanto não aprendermos a negociar bem e inicialmente conosco mesmos. Esta é a base para saber negociar com as outras pessoas e com o mundo. E só vence uma negociação – pessoal ou profissional – quem tem, antes de qualquer outra coisa, autoconhecimento e autodomínio.

         Mas é claro que essa sabedoria não se adquire de um dia para o outro. É preciso coragem para mergulhar nesta busca tão maravilhosa e recompensadora.

        “Só aquilo que somos realmente tem o poder de curar-nos.” (C. G. Jung).


(Artigo publicado no Jornal de Piracicaba do dia 04 de fevereiro de 2017, em artigo semanal do autor).



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