Para
muita gente ainda persiste a ideia de que compulsão ou dependência estão
ligadas apenas às drogas como nicotina, álcool, cocaína, maconha, etc., porém,
o assunto não se encerra nas substâncias químicas, mas também em muitas outras “situações”
que ofereçam, paradoxalmente, algum tipo de satisfação ou prazer, como passar
muito tempo em frente ao computador, comprar de maneira exagerada e até
prejudicial financeiramente, desequilibrar-se na alimentação ou no sexo,
frustrar-se quando não é elogiado, lembrado ou convidado para algo, além de
tantos outros comportamentos que se chocam negativamente com os verdadeiros e
saudáveis mecanismos de prazer e, então (infelizmente), vão se tornando
incontroláveis, prejudiciais e até mortais porque a pessoa se sente invadida
por um desejo (mais poderoso que ela) que, no início, gera realmente muito
prazer, mas depois descarrega um enorme sentimento de tristeza, mal-estar,
culpa, arrependimento e sensação de descontrole de si mesmo.
Caros
leitores, uma das principais ervas daninhas da sociedade moderna tem nome e
sobrenome: dependência e apego. As pessoas, consciente e inconscientemente –
por vários motivos – estão cada vez mais dependentes e cada vez mais apegadas,
o que está gerando um caos emocional de proporções alarmantes, causado pela
falta de autoconhecimento e, consequentemente, de habilidade em romper com crenças
limitantes “abastecidas” durante a existência. Querem uma das pequenas provas
disso? Prestem atenção ao conteúdo das
músicas que fazem sucesso nas paradas, vídeos, novelas, à “profunda mensagem”
de “reality shows”, programas de televisão; aos “heróis” que estão inspirando
crianças, adolescentes e até adultos, além das mensagens divulgadas nas mais
variadas mídias, inclusive mercadológicas. São nada mais nada menos que gritos
de socorro, desespero e descontrole, buscando ressignificações e fazendo
transferências, escondidas nos mais variados argumentos.
Veja
outro exemplo histórico. Quando alguém diz que não pode viver sem determinada
pessoa, deixa claro que sua sobrevivência está “nas mãos” daquela pessoa, ou...
daquele vício, daquele apego, daquela dependência (química ou não!). Essas são
as piores ilusões que a vida pode proporcionar a alguém e que precisa ser
tratada e resolvida.
Quanto
mais você depender e quanto mais você se apegar (de pessoas ou de qualquer
outra coisa), entenda: mais você vai se escravizar e sofrer.
Se
abordarmos a compulsão sexual, por exemplo, os dados são alarmantes, pois ela passa
de hábito à patologia e pode levar a perda da vida social, do emprego, da saúde
e da condição financeira em poucos anos. Infelizmente as pessoas não aceitam
(por vários motivos) ou se dão conta de que algo está errado ou exagerado e não
buscam ajuda, enquanto a situação vai se agravando, em qualquer tipo de
problema.
Divido
com vocês um texto maravilhoso de Osho: “O propósito da terapia é levá-lo ao
ponto onde você possa ver a sua falta de naturalidade. O propósito é
simplesmente torná-lo consciente de onde você está, do que fez a si mesmo – o
mal que tem sempre causado e ainda está causando, as feridas que está criando
em seu próprio ser. Cada uma das feridas tem sua assinatura – esse é o objetivo
da terapia, fazer com que você se dê conta de sua assinatura; que as feridas levam
sua assinatura, que ninguém mais as tem causado; que todas as correntes que o
envolvem são criadas por você; que a prisão na qual você vive é obra sua.
Ninguém a está fazendo para você.”
Este
recado precioso de Osho nos ajuda a entender que optar pelo melhor está em
nossas mãos. O livre arbítrio é um dos mais preciosos presentes que recebemos.
A vida é uma grande viagem e, quando você faz uma viagem, certamente não gosta
de levar muita bagagem, não é? Na sua vida também é assim. É inteligente
eliminar bagagens desnecessárias. O mundo moderno está empurrando
as pessoas para um destino cada vez mais perigoso, vazio e doloroso. Tenha
coragem de iniciar o processo de vitória sobre seus medos (o maior causador de
fracassos e problemas ao ser humano), seus traumas, compulsões, apegos, síndromes,
insegurança e todos os problemas emocionais que tem aumentado o peso da sua
bagagem ou te impedindo de transitar com intensidade, prazer e liberdade verdadeira,
esta linda (e rápida) viagem que estamos fazendo...
"Só
existem dois dias no ano em que você não pode fazer nada pela sua vida: Ontem e
Amanhã". (Dalai Lama).
(Também publicado no Jornal de Piracicaba do dia 11 de fevereiro, em coluna semanal do autor).
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