Saber ou entender?


       Estamos num mundo cada vez mais veloz e simultâneo. Em consequência, esta aceleração tem trazido grandes transformações. Antes piramidal, nossa sociedade agora se torna cada vez mais horizontal e, portanto, estamos cada vez mais “em rede”, ou, num termo mais popular ainda, “conectados”. As alternativas aumentam, as opções são cada vez maiores e tudo está – então - cada vez mais possível, inclusive o descarte... O tempo vai se reduzindo e palavras como trocar e experimentar estão na moda, assim como a individualidade, a liberdade e o direito à expressão, que, aliás, brigamos tanto para conseguir. Mas, enfim, como estamos gerenciando isso? É aqui nosso ponto de reflexão desta semana.

    Procure observar a sua volta, ou então nas mídias, o volume cada vez mais crescente de comentários, observações e críticas que são feitas - com abrangência local ou interplanetária! O grande problema é que nem todos falam e opinam sobre o que efetivamente entendem.
“Cada dia sabemos mais e entendemos menos”. Foi o que disse um dos homens mais inteligentes que já passou por este Planeta, Albert Einstein.

       O mundo precisa lutar para exterminar uma praga que está nos assolando dia a dia: a incoerência. Vamos a apenas alguns exemplos... Quantos de nós hoje votamos em pessoas que não conhecemos adequadamente e depois reclamamos das condições do país... Será que aquele político que defendemos tanto realmente merece nosso apoio ou admiração? Estamos embasados sobre aquela pessoa o suficiente para defendê-la ou apoiá-la? Você realmente sabe se ela tem intenções corretas para o futuro do país ou está querendo defender uma ideologia que também nem conhece tanto a fundo? Ou está fazendo isso por orgulho mesmo?  Quantos alunos reclamam da escola ou de seus professores, mas não respeitam as regras mais básicas dentro da Instituição que frequentam ou da sala de aula... Quantos criticando os meios de comunicação, determinada emissora de TV ou de mídia... mas aí eu pergunto: você é obrigado a assistir ou ouvir aquela empresa ou seus programas? Se não gosta ou aceita, não assista, ouça ou compartilhe. Quantos pais reclamam do comportamento de seus filhos mas não tem ao menos uma relação próxima a eles. E relação próxima não é estar por perto fisicamente, é estar junto, no caminho, conhecendo, participando, auxiliando, direcionando. Quantos de nós reclamamos de tanta coisa e de tantas pessoas, somos mestres em julgar, mas não nos preocupamos em entender o que está por trás daquela situação, daquele fato, daquela pessoa. Não tenha dúvida, sempre há algo relevante que precisa ser entendido e que certamente vai mudar completamente nossa visão.

Caro leitor, tudo isso que estou abordando até aqui está no primeiro estágio desse processo. Vamos além? Veja o que disse Platão: “A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento”. Numa sociedade onde poucos se preocupam, no mínimo, em ter o conhecimento para possíveis análises e julgamentos, Platão nos lembra que – além disso – precisamos saber usar nosso conhecimento. Segundo estágio...

Já o terceiro coroa poderosamente os dois primeiros e tem como pilar sustentador o que nos disse o Mestre Jesus: “Aquele que não tiver pecado atire a primeira pedra” (Jo 8:1-11). Que mensagem sábia! De que adianta buscarmos o conhecimento ou então reconhecermos como estamos fazendo uso dele, se não houver coerência, base, fundamento, valores? Posso saber e entender tudo; posso até reconhecer como estou navegando neste oceano, mas... estou usando com um propósito digno e coerente? Estou deixando – a cada dia que vivo – um legado decente aos que ficarem? Minhas críticas, comentários e observações tem fundamento, história, saber e entendimento prévios e estão conectadas a princípios e exemplos? Ou simplesmente estou “atirando pedras”?

       Que tal então “melhorar” o pensamento de Einstein? Sim, vamos aumentar nosso saber, mas aumentando – proporcionalmente - nosso entendimento, com coerência.




(Publicado no Jornal de Piracicaba do dia 13 de maio de 2017, em coluna semanal do autor)


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