Era um homem centrado, tranquilo, de bem com a
vida, independentemente do que lhe acontecesse. Habituara-se a comprar seu
jornal numa determinada banca, cujo dono, homem de humor instável, se mostrava
muitas vezes desagradável e até mesmo agressivo com seus clientes. Já havia até
perdido vários deles! Esse cliente, no entanto, não se deixava atingir pelo mau
humor do jornaleiro. Certa manhã, acompanhado de um amigo, foi como sempre
comprar o seu jornal. Quando lá chegou, cumprimentou o jornaleiro com um
sorriso cordial. Porém, aquele era um dos dias em que o jornaleiro estava em
uma de suas crises de humor e mal respondeu ao cliente. Sempre cordial, o homem
continuou desconsiderando a grosseria do jornaleiro e despediu-se com a
delicadeza de costume. O amigo que o acompanhava achou tudo muito estranho e
perguntou:
-
Você está acostumado a comprar nesta banca?
- Sim,
foi a resposta do homem.
- E
esse "cara" costuma tratá-lo mal assim?
- Na
maioria das vezes...
- E
você sempre o trata desta forma, cordialmente?
-
Sim.
E o
amigo, espantado, continuou indagando:
-
Mas por que, se ele te trata tão mal? Afinal de contas existem nas redondezas
outras bancas de jornal e com certeza você seria muito bem-vindo a qualquer uma
delas! Nesse momento, o homem olhou para o amigo e explicou:
-
Não quero deixar que ele ou qualquer outra pessoa decida por mim quem eu devo
ser ou como devo agir.
Meus
queridos leitores, isto exemplifica de modo simples o que é ter o comando da
própria vida. Em nosso dia a dia, podemos escolher entre absorver o “lixo” que
algumas pessoas têm e que por algum motivo depositam em nós ou, então, simplesmente
desconsiderar. O segredo? Perdoar, compreendendo o que leva aquela pessoa a
agir daquela maneira. Mas isso precisa de técnica e treino!
O
mundo padece emocionalmente, o que gera inúmeras consequências. Sobram
exemplos, se refletirmos sobre o que está acontecendo dentro e fora das
residências do Planeta Terra.
Costumo
sempre orientar as pessoas sobre a força devastadora do perdão. Mas, antes,
procuro fazê-las entender o que é, na verdade, o perdão. Em primeiro lugar,
perdão não acontece de fora para dentro, mas somente de dentro para fora. O perdão
que muitas vezes vemos por aí é interesseiro, superficial, até “político”,
podemos dizer. Aprenda a entender e praticar o perdão verdadeiro e não tenha
dúvida de que sua vida vai se transformar, positivamente.
Quantas
vezes ouvimos alguém dizer: “Eu perdoo, mas não consigo esquecer”. Esse é o
perdão de fora para dentro. Na verdade é um paliativo usado para melhorar a
convivência com o outro ou com determinada situação. O verdadeiro, vindo de
dentro para fora, esquece o que aconteceu. Esquece a ofensa. Compreende todo o
processo, imparcialmente. Fica limpo, curado. Sem isso, mais cedo ou mais tarde
os fantasmas do rancor, da intolerância ou da desconfiança retornam e destroem
o que acham pela frente.
Perdoar
de dentro para fora é coisa de quem se domina e domina a situação, sem ficar
numa posição de fraqueza. Na verdade, a posição é de poder. Do poder vencedor
dos vencedores: o poder sobre si mesmo. Você pode escolher ficar remoendo os
pensamentos sobre os fatos já ocorridos ou pode escolher entender que o que
passou, passou. O que está feito já está feito. Não se muda o passado. Não se
tem a certeza do futuro e, portanto, o presente é o “presente” que você tem e
pode escolher tirar do caminho dele tudo o que atrapalha seu bem estar, sua
realização, sua felicidade.
Se
algo te machucou ou não aconteceu como você queria, escolha perdoar, a si mesmo
e a quem quer que seja. Em seguida, siga em frente, corrigindo o que precisa
ser corrigido, dentro do que lhe é possível fazer.
Se
você já ligou o “piloto automático”, está cansado de ser espectador e quer ser
o protagonista da sua vida, saiba que sempre é tempo. Muitas vezes nós mesmos
precisamos mais de perdão do que precisamos perdoar.
Conheça-se.
Escolha viver o presente de maneira intensa e realizadora, liberto e dono de
si, lembrando sempre a famosa frase do filósofo, escritor e crítico francês Jean-Paul
Sartre: “Eu posso sempre escolher, mas devo estar ciente de que, se não
escolher, assim mesmo estarei escolhendo.”
(também publicado no Jornal de Piracicaba, dia 03 de junho de 2017, em coluna semanal do autor)
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