Curto, logo existo?

"Eu temo o dia em que a tecnologia ultrapasse nossa interação humana. Então, o mundo terá uma geração de idiotas”. Esta frase é atribuída ao físico alemão Albert Einstein, mesmo com controvérsias sobre sua autoria. Mas, independente disso, ela faz sentido nos dias atuais? Será que esta “profecia” está se cumprindo?

Estatísticas não se cansam de orientar que o uso excessivo das redes sociais (e isto significa mais de uma hora, diariamente), pode causar solidão, inveja, tristeza e insatisfação para com a vida e que a inevitável progressão desses sentimentos é a raiz de sérios problemas psíquicos. Se isso não bastasse, o vício nas redes também pode causar um sentimento chamado “F.O.M.O”, do inglês “Fear Of Missing Out”, ou seja, medo de perder algo, medo de ficar de fora, o que, consequentemente, acirra a vontade de sempre “atualizar” e “consultar” as redes sociais. Enfim, esse cenário todo, além de trazer transtornos emocionais, vai simplesmente mudando a forma como a pessoa vê a vida.

         A necessidade de consumir notícia (para muitos) já está se igualando à vontade de almoçar, por exemplo, e o número de profissionais que se sentem “atrasados corporativamente” quando não estão on-line, aumenta a cada dia. Tecnologia e ansiedade estão se aproximando cada vez mais. De acordo com Kelly McGonigal, PhD em psicologia e professora da escola de negócios da Universidade Stanford, em São Francisco, o sistema de recompensa do cérebro (que nos dá o comando para ingerirmos alimentos) se adaptou à era digital e hoje também necessita de informação.

Querido leitor, tudo o que escrevi até agora é apenas a ponta do iceberg. Vamos além, ou melhor, vamos para baixo dele? Redes sociais... Nelas constam registros! Grandes festas, altas baladas, muita felicidade, grandes viagens, paisagens, aeroportos, aqueles pratos maravilhosos, aquele “look”! Quem será que tem a vida mais interessante? Uns até acham que tem, mas isso dura até a próxima postagem de alguém que consegue “mostrar” que está melhor... Que veneno implícito, com o agravante de destruir silenciosamente. Pessoas estão se preocupando mais com o número de curtidas que tiveram em determinada postagem do que com o próprio destino. Nessas horas me vem à cabeça uma parte da música “Amor pra recomeçar” (Frejat), onde diz que “rir de tudo é desespero”, paradoxo que se explica na resposta da pergunta: “Será que essas pessoas tão felizes que vemos nas redes sociais realmente são e estão o que demonstram ser e estar ou estão desesperadas”?

     Aparência e essência. Que magnífica reflexão! Se o pano de fundo de uma postagem é a necessidade de aceitação, isso nada mais é do que uma forma de definir o que não está bem definido dentro da pessoa e, portanto, fica clara a falta de sintonia entre consciente e inconsciente. O psíquico, então, vai buscar uma forma de resolver isso. Do jeito dele! E é exatamente nesse momento que nascem os grandes desastres emocionais, que aumentam gradativamente.

       Receber um like ou um comentário ativa a autoestima, mas também pode estar aliviando uma solidão... Pense nisso! Muita gente está “precisando” ler o que “as pessoas” acharam da sua nova foto do perfil, se o lugar que passaram o dia ou o final de semana é lindo mesmo, se estão “afinadas” com as preferências musicais ou literárias...

      Angústia e ansiedade por retornos. Carência e necessidade de pertencimento. Números que vão crescendo. Qualidade? Não. Números. Preenchimento de vazios... Tudo é quantificável. E destrutivo. Se o que se mostra não é o que se é, tem algo muito confuso e potencialmente nocivo aí, assim como querer se comparar com outras pessoas ou situações. Cada um tem sua história, suas crenças, e neste caso, comparar-se é algo extremamente prejudicial. Você não deve precisar de nada nem de ninguém para ser completo. Se precisar, acredite, algo está mal resolvido em você e, portanto, qualquer sequencia não terá o básico para dar certo. É preciso ajustar e resolver isso, antes de qualquer outra coisa.

        “Aquele que olha para fora sonha. Mas o que olha para dentro acorda” (Jung).

       Quem depende sofre. Quem carece de aplausos, está doente. Quem necessita de complemento (de qualquer natureza), tem que se encontrar primeiro.

         Você precisa ser feliz com plateia?



(artigo também publicado no Jornal de Piracicaba, 08 de julho de 2017, em coluna semanal do autor)


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