Controlável ou incontrolável?

Um fazendeiro recebeu, um certo dia, a informação de que um de seus melhores cavalos havia caído num poço de sua propriedade. Todos na fazenda estavam muito tristes e frustrados, pois, apesar de muitas tentativas, não conseguiam tirar o cavalo do poço. O fazendeiro foi até lá e constatou que, mesmo o animal estando sem ferimentos, realmente nada mais poderia ser feito e também decidiu que não iria mais tentar salvá-lo, pois isso seria muito demorado e caro. Pediu, então, que jogassem terra sobre o cavalo para enterrá-lo e, preocupado com seus negócios, saiu do local. Seus funcionários começaram a cumprir a ordem, entretanto, a cada quantidade de terra que jogavam, o cavalo espertamente se mexia e a terra ia ficando no fundo do poço. Com a admiração dos homens que jogavam a terra, o animal ia “subindo” com a terra. Depois de um certo tempo, ele já estava quase fora do poço e finalmente saiu, relinchando, feliz.

Muitas vezes passamos por situações extremamente desgastantes em nossa vida e em muitas delas amargamos uma grande dificuldade em entendê-las ou mesmo vencê-las, sem, pelo menos, nos machucarmos. Quantas vezes nos sentimos lá no fundo do poço... Quantas vezes pessoas e situações atiram terra em nossas vidas. Entretanto, não se espante: muitas vezes somos nós mesmos que jogamos terra em nossas vidas. E aqui começa nossa reflexão de hoje!

O ser humano tem pavor à frustração. Horror à decepção. Detesta que algo não saia como o planejado. Você já reparou, por exemplo, que preocupar-se com algo que não aconteceu não irá ter poder sobre o futuro? Você já reparou que a maioria absoluta das coisas que “achamos” que vai acontecer de negativo, não acontece? Se não, faça uma retrospectiva...

Vamos a mais exemplos. Observe com imparcialidade e abertura que, normalmente, quando alguém não se dá bem com alguém, certamente existe algo na outra que falta nela e o psíquico se encarrega de “se queixar” dessa “falta” com várias atitudes não muito bacanas... Quanto “lixo” recebemos em nosso dia a dia vindo de pessoas que não estão bem com elas mesmas, estão sofrendo distúrbios emocionais ou fraqueza no gerenciamento das emoções. É preciso ter muito domínio próprio - gerado pelo autoconhecimento – para ficarmos “acima” desses obstáculos do dia a dia. Nada impossível, apenas é necessário ter vontade de buscar ajuda para o tratamento e disposição - aliada à perseverança - para a continuidade.

Jung disse com sabedoria: “Aquilo a que você resiste, persiste”. Note, caro leitor, que se você não expande sua mente, se não amplia sua personalidade, suas dificuldades no gerenciamento da emoção vão entrando
num círculo vicioso doentio, agindo de forma prejudicial e em cadeia, como uma bola de neve em expansão.

Querer controlar o externo é próprio de pessoas que não se entendem com elas mesmas. O que você pode e deve controlar é você mesmo. Ofensas que você recebe ou “lixos” vindos de pessoas que te elegem para “alvo” fazem parte de um setor chamado incontrolável. Ter a ponderação e o equilíbrio de não se desesperar com acontecimentos (dos mais variados tipos) que te frustram, te decepcionam ou jogam terra sobre você é saber a diferença entre o controlável e o incontrolável. É navegar com o controle da viagem e do destino. É saber o que está ao seu alcance e... fazer! É saber o que não está mais ao seu alcance e... não fazer! Sem culpa! Compreender isso traz força, serenidade, equilíbrio e maturidade emocional. Tentar entrar no setor “incontrolável” nos faz sofrer e nos adoece, apenas isso. Maturidade emocional nos torna superiores às adversidades e, por isso, nos poupa do sofrimento e dos desajustes psíquicos que assolam o mundo de hoje. Pessoas que levam isso a sério têm a autêntica condição de dizer o que realmente é “felicidade”.

            “Não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos”. (Anaïs Nin).


(Artigo também publicado no Jornal de Piracicaba, dia 12 de agosto, em coluna semanal do autor)


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