Independência é morte


Você e eu temos inúmeras histórias de superação para contar. Nossas ou de muitas pessoas por este mundo afora. Temos o caso do pai Dick que empurrou seu filho, com paralisia cerebral, Rick, por 42 quilômetros em maratona, vídeo que foi amplamente divulgado nas redes sociais. Temos Nick Vujicic, outro exemplo de superação, dando palestras pelo mundo, feliz, mesmo sem ter mãos e pernas! Pessoas da sua família ou de sua cidade que são verdadeiros exemplos de vida, de honestidade, trabalho, responsabilidade e dedicação. Líderes mundiais ou do seu bairro. Pais, mães... Afortunados ou totalmente descapitalizados do ponto de vista financeiro, no entanto, pessoas do bem, desapegadas, abrangentes, navegando numa dimensão espiritual e emocional acima da média.

Comemoramos todo ano, no dia sete de setembro, a independência do Brasil. Mas, do que trata exatamente esta palavra tão complexa: “independência”?

Há muita confusão no entendimento e na interpretação deste tema. De um lado os que defendem que ser independente é ter a liberdade de fazer o quer, na hora que quer, do jeito que quer. De outro lado, os que vinculam independência ao dinheiro ou ao poder. E, somam-se a estes, outros tantos conceitos equivocados sobre independência e liberdade. Infelizmente, o que castiga emocionalmente grande parte da humanidade e – por consequência – traz a maior parte dos problemas, é a tentativa (inútil) de enganar-se quanto ao verdadeiro sentido destas palavras. E a própria vida vai distribuindo as consequências...

Começando nossa reflexão desta semana, vamos recordar o que disse Aristóteles: "É livre aquele que tem em si mesmo o princípio para agir ou não agir, isto é, aquele que é causa interna de sua ação ou da decisão de não agir”.

Veja, querido leitor, como Aristóteles nos mostra a grandeza, a profundidade e a beleza da liberdade, da independência, na mais pura e verdadeira concepção.

Se suas decisões e atitudes não estiverem embasadas no que você acredita por essência, se você não tem força para seguir seus sonhos ou desejos, se tem medo das críticas, dificuldade com desafios ou situações novas; se não consegue enxergar oportunidade nos problemas ou não consegue resolvê-los sem se colocar numa posição de vítima ou de injustiçado; se não tem consciência que aprender e mudar é algo que se renova, que eleva; se não tem força suficiente para decidir e agir sobre um sim ou sobre um não, você definitivamente não é livre. Se não é livre, é dependente. E, se for dependente, é escravo.

Pessoas dependentes têm uma grande dificuldade em tomar decisões e necessitam demasiadamente de outras opiniões ou “heróis”. Além disso, quando ocorrem divergências, elas não conseguem mostrar a falta de aceitação e acabam fazendo o que os outros querem.

Superação é característica primordial de quem é livre. Por isso só é forte quem é livre.

Os grandes exemplos de superação tem algo em comum: são pessoas que duvidam do que ouvem ou dos comandos “prontos” que recebem. Elas criticam e tem dificuldade de aceitar o que já é verdade para os outros. A evolução, então, vai eliminando as dependências e fazendo nascer a verdadeira liberdade.

Independência é “morte” para o que te escraviza, em todos os sentidos. São muitos hoje os escravos da insegurança, da tristeza, das doenças, do passado, do dinheiro, do poder, do vício, da timidez, de pessoas, de opiniões... Por outro lado, estamos num país que trocou a dependência de Portugal pela dependência de um grupo de políticos que governam para eles mesmos e, a cada eleição que passa, as urnas provam que não queremos nos separar dessa dependência. Recebemos e aceitamos pronto e, ponto final. Produtos são elaborados, fabricados e comercializados com tempo pré-determinado de uso e nós simplesmente aceitamos fazer parte dessa máquina alienadora consumista e... compramos! Afinal, a “moda e a modernidade” ditam qual deve ser a sequência de nossos passos. "A única pessoa com a qual você pode se comparar é com você mesmo, no passado”. (Freud). Neste contexto, nada mais pertinente, então, que refletirmos: se nos compararmos ao que éramos, o que realmente mudou até aqui?


(publicado também no Jornal de Piracicaba, dia 9/9, em coluna semanal do autor)


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