Infelizmente,
este não é um tema tratado com a realidade e a seriedade que merece. Filmes que
lotam bilheterias, livros que se tornam best-sellers, sites, programas e muitas
outras mídias (que impressionantemente não recebem censura e aparecem a
qualquer hora do dia e da noite) invadem a mente das pessoas tentando “maquiar
o monstro”. Não se iluda, ao que eles tentam dar glamour, o que existe (de
fato) não é nada mais nada menos do que uma séria doença, que precisa de
tratamento.
O
imaginário popular recebe doses poderosas de confusão sobre este assunto. O
protagonista de um filme, seriado, livro, novela famosa ou mesmo alguém comum,
próximo, desejado e que seja viciado em sexo – pode ser o sonho de consumo para
quem deseja realizar fantasias ou fetiches. No entanto, o que a maioria
desconhece é o lado clínico, médico e psicossocial dessas pessoas, que sofrem
potencialmente em decorrência dessa grave doença.
A compulsão
sexual precisa ser melhor entendida. Um exemplo para começar: há um verdadeiro
abismo entre gostar e precisar de sexo. Explico!
O
compulsivo por sexo tem uma necessidade contínua de conviver com pensamentos,
contatos, visualizações ou atos sexuais e o complicador é que sexo proporciona
prazer, portanto, a compulsão (em si) deixa de incomodar, em função do prazer
(inicial), que inibe a sensação de estar fazendo mal (o que ocorre após o
prazer inicial). Isto explica a existência de muitos compulsivos que demoram a
procurar ajuda, causando verdadeiros estragos na vida pessoal, afetiva, emocional
e profissional.
Compulsões
tem origem em situações reprimidas no inconsciente por terem sido consideradas
nocivas a vida emocional ou física da pessoa e tem muito a ver com ansiedade,
chegando a ser uma consequência dela, mesmo porque compulsão não é só por sexo.
Diante desse cenário, portanto, é improdutivo “proibir” a pessoa de agir como está
agindo ou fazer terrorismo verbal/emocional. Isso apenas vai fomentar a
ansiedade ou canalizar esta energia para algum outro comportamento compulsivo,
agravando o quadro.
Quando
uma pessoa é exposta de forma prematura a uma situação em que o sexo figure
como algo misterioso, sem explicação, repressor ou invasor, pode desenvolver
sérios problemas emocionais, inclusive transtornos, fobias, síndromes, depressão
ou compulsões. Exemplos relacionados a isso: estupro, pedofilia, desajustes,
repressões familiares e tantas outras situações a que muitos seres humanos são
expostos, consciente ou inconscientemente. O agravante é que, ocorrendo isso em
fases prematuras, sem um conhecimento ou um amadurecimento necessário, o
inconsciente não consegue “significar” os fatos e os entende como “erro”,
“culpa”, “problema”, “desvio”, enfim, sentimentos confusos e destruidores são
“anexados” a história da pessoa, acompanhando-a no decorrer da vida e produzindo
problemas no formato de bolas de neve...
A
maioria absoluta das compulsões – não só sexuais - bem como dos transtornos ou
problemas emocionais de alguém, tem ligação direta com seu passado, suas
crenças (impostas ou não) e – proporcionalmente – com os possíveis rompimentos
que foram feitos.
Existem
tratamentos para a compulsão por sexo (lembrando que ela é parecida com
qualquer outra compulsão) e a melhor maneira de resolvê-la é ressignificar as
causas emocionais que motivam este comportamento, cuidando paralelamente da
ansiedade, dos traumas e de outros transtornos (consequentes).
Compulsivos
demoram para entender que o são e dificilmente se livram disso sozinhos.
Precisam de ajuda profissional. Na verdade, os problemas emocionais sabotam as
pessoas - além do sofrimento que causam - tirando delas o verdadeiro sabor da
vida. Acordar, desligar o piloto automático e tomar as rédeas da própria vida,
com qualidade e conteúdo, é o objetivo central.
“Uns
sapatos que ficam bem numa pessoa são pequenos para uma outra; não existe uma
receita para a vida que sirva para todos”. (Jung)
Portanto,
ao buscar ajuda, você também precisa entender que a terapia deve agir com base
na história detalhada e particular de cada indivíduo, sem receitas prontas e
nunca sem dois fundamentais ingredientes: amor e competência.
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