Quem manda em você?

Inicialmente, vamos entender o que é a chamada “Sombra”, um dos conceitos mais importantes desenvolvidos por Jung (Psiquiatra e Psicoterapeuta suíço que fundou a Psicologia Analítica). Esse estudo de Jung explica – dentre tantas outras coisas – o “fascínio” do ser humano pelo desastre, pelo negativo, pelo sensacionalismo, pelas tragédias... 

Não precisamos de grandes estatísticas para comprovar isso. Um exemplo é a programação da TV... Noticiários, roteiros de novelas e tantas outras “atrações” da telinha. Não tenho dúvida em afirmar que 80% têm teor negativo e a liderança da audiência, com brigas, estupros, mortes, crimes espantosos, histórias catastróficas, acidentes, injustiças, corrupção. Fatos que apenas aprofundam a tristeza, alimentam o medo, consolidam a impotência e trazem indignação, violência e revolta. Um cenário mental perigoso e que traz sérias consequências. E os outros 20%? Uma pena, mas uma boa parte desse percentual vai para inutilidades, que – proporcionalmente – influenciam a sociedade. Programas que fomentam o sexo sem sentido, piadas que incentivam o desrespeito, músicas que desvalorizam significativamente as mulheres (e pasmem, muitas mulheres “curtem”, cantam e dançam as mesmas letras que as escravizam), superficialidades que nada agregam, etc. 

E não caia no erro de criticar apenas as emissoras. Analise: se alguma emissora invertesse sua programação e colocasse 80% de assuntos positivos e 20% de negativos, para onde iria sua audiência? Então, onde está o real problema, a real causa?

Pois bem, mas aí você me pergunta o que a tal da “Sombra de Jung” tem a ver com tudo isso... Todos nós, seres humanos, trazemos do passado uma série de sentimentos negativos: crenças, emoções, frustrações, traumas, tristeza, raiva, medo; que vão formando uma “sombra emocional”, que busca crescer e se desenvolver. Todo esse cenário negativo e cruel que nosso consciente visualiza é o alimento que ela precisa. Portanto, essa atração que sentimos por coisas negativas é simplesmente esta “sombra” se alimentando e atuando dentro de nós, mas de forma inconsciente.

E aqui começa, querido leitor - de forma mais aprofundada - nossa reflexão de hoje. Muitos já se destacam orientando que nem tudo está perdido, nem tudo é desastre e que, ficar focando o negativo não vai resolver os problemas do mundo. Muitos até pedem para pararmos de assistir TV, para focarmos no desenvolvimento, no otimismo. Sim! Estão certos! O que estas pessoas esquecem é que o inconsciente do ser humano não entende orientações dessa forma e tropeçam em seus persuasivos argumentos, que, ao médio e longo prazo, mostram sua poderosa ineficácia, pois o foco está sendo nas folhas e não nas raízes. Não se iluda, só reverte esse ciclo o ser humano que tem a coragem de acessar suas sombras, mergulhando em si mesmo e colocando “ordem na casa”, na maravilhosa jornada do autoconhecimento, que é extremamente facilitado pela terapia. O que não serve, mas por algum motivo ainda permanece em nossa mente inconsciente, segundo a Psicologia Analítica de Jung, precisa ser esclarecido ou retirado. Entretanto, o ser humano tem medo de sua própria sombra, pois é lá que está tudo o que ele deseja esquecer ou negar. E autoconhecimento caminha exatamente no sentido contrário, pois nele ocorrem conscientização e transparência, numa viagem profunda, real e sem paradas, pois essa é a dinâmica da vida, fruto - dentre outros motivos - do livre arbítrio, que garante o poder da escolha e, consequentemente, da evolução.

Quanto mais você se libertar, limpando sentimentos e emoções negativas acumuladas, menos sua mente se sentirá atraída por qualquer coisa que possa te fazer mal ou te influenciar negativamente e, consequentemente, muito melhor será sua qualidade de vida física e emocional.

"Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida e você vai chamá-lo de destino." (Carl Gustav Jung).




(Publicado no Jornal de Piracicaba, 29 de julho de 2017, na coluna semanal do autor)


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